Aceitemos: Enquanto não fizermos as pazes com a desordem das coisas, estaremos sempre em conflito com O Inesperado e O Imprevisível.
Tem dias em que a vida se ajeita feito lençol bem esticado. A casa acorda em silêncio; o cabelo colabora; o pão tosta na medida certa; os ovos não grudam na frigideira. A blusa preferida, lavada e passada, te espera como um abraço; o trânsito flui; o elevador vem vazio e o café da firma está no ponto certo. A entrega chega antes do previsto; a mensagem que você tanto queria, também. O espelho devolve uma imagem amiga; você recebe um elogio inesperado e até a previsão do tempo acerta — sol com ventinho bom.
Mas há dias em que a vida entorta. Você acorda atrasada, derruba o shampoo, bate o cotovelo na quina. A roupa que queria usar está no cesto, o café escorre pelo balcão, a chave some na hora de sair. A fila anda devagar, o salto quebra, o guarda-chuva vira do avesso. A cabeça dói, o peito pesa, o humor desanda. O espelho devolve um cansaço que você nem lembrava de carregar.
A vida é assim: desgovernada, imprevisível, cheia de voltas.
Num mês a gente está fazendo planos de viagem, no outro contando os dias para terminar a reabilitação ortopédica.
Viver é aceitar que a existência se revela entre a doçura de um dia comum e o tropeço do momento seguinte. Entre o sopro que apascenta e o vendaval que confunde. Entre o que foi planejado com afinco e o que o acaso veio bagunçar.
Não é sobre linha reta — nunca foi. É curva, ziguezague, desvio. Às vezes gira em falso, às vezes nos surpreende com atalhos. É feita de avanços tímidos, retrocessos involuntários e recomeços silenciosos. Tem fases em que tudo faz sentido, e outras em que nada se explica.
Porque a vida não é uma estrada reta, mas é caminho. E estar a caminho, já é, por si só, um jeito bonito de continuar.
Dias ruins também fazem parte de uma vida boa, e está tudo bem. É no inesperado que a gente cresce.
Quem nunca chorou por causa de uma despedida que depois agradeceu? Quem nunca quis voltar no tempo e hoje entende que foi melhor assim, do jeito que foi, cheio de curvas e tropeços?
Num dia você está por cima, no outro está por baixo — e está tudo bem. O dia difícil não dura para sempre, assim como o dia bom também passa. Tudo se alterna, tudo se move. Mesmo quando a fase ruim insiste em ficar, ela é só uma parte do caminho — não o caminho inteiro. As coisas melhoram. O tempo vira. E você também aprende a se virar.
Então respira. Aceita as voltas. Perdoa o que não deu certo. Recomeça. Porque às vezes, o que parece um desvio é só o caminho certo de um jeito que você ainda não entende.
E segue.
Torta – mente.
Do seu jeito.
Inesperadamente lindo.